segunda-feira, 19 de maio de 2008


É preciso estar sempre embriagado.Isso é tudo: é a única questão.

Para não sentir o horrível fardo do tempo que lhe quebra os ombros

e o curva para o chão, é preciso embriagar-se sem perdão.

Mas de que?De vinho, de poesia ou de virtude, como quiser.

Mas embriague-se.E se às vezes, nos degraus de um palácio,

na grama verde de um fosso, na solidão triste do seu quarto,

você acorda, a embriaguez já diminuída ou desaparecida,

pergunte ao vento, à onda, à estrela, ao pássaro, ao relógio,

a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola,

a tudo o que canta, a tudo o que fala, pergunte que horas são e o vento,

a onda, a estrela, o pássaro, o relógio lhe responderão:

É hora de embriagar-se!Para não ser o escravo mártir do tempo,

embriague-se;embriague-se sem parar!

De vinho, de poesia ou de virtude, como quiser.


Charles Baudelaire

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